Palavra Delas
O ano de 2023 foi marcado por muitos avanços no campo dos direitos indígenas – e também por muitos desafios e mobilização dos movimentos liderados por mulheres, fazendo resistência às ameaças de retrocesso. Para analisar esse cenário e falar sobre as expectativas para o próximo ano, convidamos a ativista, organizadora da Marcha das Mulheres Indígenas e secretária estadual dos Povos Indígenas do Pará, Puyr Tembé.
Puyr Tembé é uma das protagonistas do documentário “Somos Guardiões” lançado em outubro de 2023
ELAS+: Como você avalia o ano de 2023 para a população indígena?
PUYR TEMBÉ: Foi um ano bem significante, onde os povos indígenas tiveram uma conquista histórica no Brasil, que é o Ministério dos Povos Indígenas. Houve também a retomada da demarcação dos territórios, a retomada das pautas dos direitos sociais dos povos indígenas. Temos pessoas de povos indígenas ocupando espaços estratégicos, as incidências que a gente também tem, como a Marcha das Mulheres Indígenas, e as relações que a gente constrói e busca fortalecer com as entidades que nos apoiam, como o ELAS+. Mas, também tem a pauta do enfrentamento ao marco temporal, essa luta, essa resistência. Então, vejo que teve seus ganhos, está tendo as suas conquistas, mas ainda está tendo muita resistência.
ELAS+: Em outubro deste ano tivemos o lançamento do documentário “Somos Guardiões”, que traz você como uma das protagonistas. O filme retrata a sua luta cotidiana, e a de outros ativistas ambientais, pela preservação das florestas no Brasil. Qual a importância de uma obra como essa?
PUYR TEMBÉ: Eu sou muito orgulhosa de participar desse documentário que retrata um processo de luta dos povos indígenas. É um filme que contextualiza o cenário político, que traz a pauta ambiental, que traz esse desafio social, que envolve empresas, que envolve povos indígenas. Mas, que envolve fazendeiros também, madeireiros. E esse é o nosso maior desafio. E a gente aparecer no documentário com a conquista de mulheres indígenas sendo eleitas, como a eleição da Sônia Guajajara [atual ministra dos Povos Indígenas] como deputada federal, isso não tem palavras!
ELAS+: Quais as expectativas e prioridades para 2024, em relação ao avanço de direitos das mulheres indígenas?
PUYR TEMBÉ: Eu acho que as expectativas para 2024 cada vez mais crescem porque temos o Ministério de Povos Indígenas, que é comandado por uma mulher [Sônia Guajajara]. Temos uma mulher também na FUNAI [Joenia Wapichana], temos a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreira da Ancestralidade, a ANMIGA, fazendo esse trabalho que vem fazendo. A nossa expectativa é que essas instâncias que são ocupadas por mulheres indígenas sejam fortalecidas e cada vez mais a gente possa garantir os nossos direitos, o combate à violência contra os nossos corpos e territórios. A nossa prioridade é fazer com que essas conquistas de direitos sociais das mulheres indígenas cheguem.