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A Cepia, uma das organizações apoiadas pelo Fundo ELAS, lançou uma campanha contra a intolerância que recebeu o Leão de Ouro no Festival de Cannes de 2017. Produzida pela agência Y&R Brasil, a campanha é uma criação de Rafael Pitanguy e surgiu em resposta a um grave problema atual: o crescimento dos discursos de ódio e dos ataques a mulheres, negros e negras e pessoas LGBT na internet.

Confira entrevista com Jacqueline Pitanguy, coordenadora executiva da Cepia, sobre o crescimento da intolerância no Brasil e o desenvolvimento da campanha premiada:
 
Como surgiu a ideia da campanha?
 
O crescimento exponencial da intolerância no Brasil vinha nos impressionando já há alguns anos. A construção de categorias malditas, vistas como poluidoras para um determinado projeto de sociedade, envolvendo  desde manobras legislativas a campanhas nas redes sociais, e mesmo manifestações públicas em marchas e eventos, constituem a base ideológica  do nazifascismo  cada vez mais presente hoje no Brasil e em outros países. 
 
A eleição de Trump, calcada no discurso de medo e da rejeição ao outro, basicamente, mas não apenas dos islâmicos e das feministas, reforçou essa preocupação da CEPIA .Foi esse o contexto no qual surge nossa campanha. As redes sociais, teoricamente neutras enquanto meio de comunicação, estavam tomadas pelo discurso do ódio e da intolerância às mulheres, às feministas, aos negros, à população LGBTTI,  ao conceito de gênero, a determinadas religiões….
 
Enquanto coordenadora executiva da Cepia, como você observa os crescentes ataques a ativistas e defensoras de direitos humanos na internet e seu impacto na luta pelos direitos das mulheres?
 
Os ataques são ações que derivam desse contexto de ódio e intolerância e estão vinculados a projetos de poder nos  quais o lugar da mulher deve ser de subalternidade, ocupando a posição de  cidadã de segunda categoria. Isso fica claro em projetos legislativos como o Estatuto da Família, a PEC 29/2017 ou Estatuto do Nascituro, no esvaziamento dos órgãos governamentais que defendiam direitos das mulheres, na leitura conservadora de livros sagrados como a Bíblia, na rejeição à diversidade de orientação sexual e na hierarquização das pessoas em termos raça, etnia e cor. Portanto, as ativistas que lutam pelos direitos das mulheres, particularmente as feministas, ao rejeitarem essa agenda se colocam na linha de frente de ataques próprios a um campo de batalha.
 
Qual é a importância da premiação de uma campanha como essa no atual contexto de retrocesso de direitos e avanço de discursos de ódio na sociedade, em especial nas mídias sociais? 
 
A premiação com o Leão de Ouro foi da maior importância porque, além da qualidade da criação da peça, em filme e rádio, pela Agência Y&R Brasil, com direção de Rafael Pitanguy, a premiação traz esperança no sentido de que sua mensagem foi considerada importante e necessária no cenário mundial atual.


Confira o vídeo da campanha: