Nesta quinta o Fundo ELAS lança o quarto e último bloco da série Trabalhadoras Domésticas: Direitos e Desafios – Uma Conversa com Creuza Oliveira. Desde o dia 27 de abril, Dia da Trabalhadora Doméstica, toda quinta-feira publicamos trechos de entrevistas com a secretária geral da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad) sobre a luta da categoria por direitos, uma luta que o Fundo ELAS acompanha, apoia e fortalece.
Hoje vamos conhecer a história pessoal de Creuza Oliveira, que começou a trabalhar como doméstica antes dos 10 anos de idade e nos contou sobre seu processo de conscientização e formação política:
Creuza por ela mesma: trajetória de uma liderança
Minha relação com o movimento de trabalhadoras domésticas vem do meu próprio trabalho. Comecei a trabalhar antes dos 10 anos de idade como doméstica e assim levei minha infância, adolescência e juventude. Na época, não tinha noção de que estava sendo violentada nos meus direitos de criança, de que estava assumindo responsabilidades de uma pessoa adulta e sofrendo diversos tipos de violência. Sofri violência moral e tentativa de violência sexual.
Aos 27 anos comecei a perceber que nas casas em que eu trabalhava meus patrões trabalhavam mas tinham férias (nessa época geralmente quem trabalhava era o marido). A família estava junta no fim de semana, ia ao clube, à praia. Eu não tinha isso, sempre estava trabalhando, tinha que deixar tudo pronto sempre. Comecei a me perguntar por que não tinha o direito de ter minha casa, de estar com minha família em momentos de descanso. A ficha começa a cair, fui percebendo determinadas coisas que não percebia.
Depois de algum tempo pensando nisso ouvi no rádio uma entrevista com uma mulher que estava se candidatando a vereadora, que disse se fosse eleita ia defender os diretos das mulheres, das crianças e das “empregadas domésticas”. Essa candidata era dona de uma rede de lojas em Salvador.
Naquela época todas as trabalhadoras domésticas tinham um radinho de pilha. Era nosso parceiro em meio àquela solidão. Os patrões e patroas se recolhiam na sala, no quarto, e a gente ficava isolada nas dependências, na cozinha e nosso quarto, às vezes tinha casa com televisão na cozinha ou na copa, mas essa televisão tinha hora para ligar e desligar, já o radinho podia nos acompanhar. Foi através desse radinho que ouvi essa mulher falando.
Eu entrei no movimento em 1984 através dessa entrevista da moça que ouvi na rádio. Aquilo foi como uma luz no fim do túnel, por que eu já me perguntava algumas coisas… A gente só tinha folga naquela época de 15 em 15 dias. Tinha patrão que dava, outros não, pois a lei não dizia nada. Eu gostava do trabalho, me apegava às crianças, sofria quando deixava a casa por causa