III Marcha das Mulheres Indígenas encaminha acordos para políticas públicas e delibera a meta de ampliar representação feminina em cargos políticos
Após três dias de debates, encontros e articulações, a III Marcha das Mulheres Indígenas, que contou com o apoio institucional e financeiro do ELAS+, levou cerca de 7 mil pessoas às ruas da Esplanada dos Ministérios em Brasília, nesta quarta-feira. Mesmo com o sol quente e a baixa umidade do ar da capital federal, mulheres de diversas etnias e de todos os biomas brasileiros andaram por cerca de 4km entre o acampamento e o Congresso Nacional. Com seus cantos, rezos e também faixas com palavras de ordem, pediram a derrubada do marco temporal, cobraram a demarcação de terras indígenas e políticas públicas que garantam a saúde e a segurança das mulheres em seus territórios.
Apesar de já estar na terceira edição, essa é a primeira vez que a Marcha acontece tendo mulheres indígenas em cargos eletivos no Congresso e no primeiro escalão do governo federal – como Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, e Joenia Wapichana, presidente da Funai.
Ocupar espaços políticos foi uma decisão tomada a partir de uma estratégia de resistência do movimento indígena, adotada para combater ataques e violências incitadas nos últimos anos. Nesse sentido, umas das deliberações da Marcha é ampliar a representação política, aumentando o apoio às candidaturas de mulheres indígenas nas eleições municipais de 2024.
No ato realizado em frente ao Congresso, após a simbólica caminhada, a ministra Sonia Guajajara destacou a importância da “bancada do cocar” e dos cargos no Executivo.
“Faz muita diferença a nossa presença nesses espaços. É simbólico e representativo, foram muitos anos que a gente marchou, muitos anos que a gente lutou. É importante ampliar essas vozes”. Sonia Guajajara
Representatividade e sustentação
A mensagem também é de apoio a quem chegou lá. As milhares de mulheres que participaram da Marcha deixaram o recado de que vão sustentar a representação já conquistada e cobrar condições justas para a execução do trabalho de quem foi escolhida para o cargo.
No último ato programático da Marcha, um encontro com as ministras do Meio Ambiente, Marina Silva, da Igualdade Racial, Anielle Franco, das Mulheres, Cida Gonçalves, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, anunciou planos de trabalho conjunto e acordos de cooperação técnica para fomentar políticas públicas de enfrentamento às violências contra as mulheres indígenas.
Entre as ações práticas, será inaugurada uma Casa da Mulher Brasileira na cidade de Dourados (MS), com atendimento específico para mulheres indígenas. Além disso, foi assinado um acordo com o Ministério das Mulheres que prevê a realização de seis encontros, um em cada bioma do país (Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal) para discutir a criação da Casa da Mulher Indígena, para realizar atendimentos nos territórios.
Outro ato, firmado com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), prevê o fomento para a formação de recursos humanos de alto nível no país e para a pesquisa científica, por meio de programas direcionados à inclusão acadêmica dos povos indígenas.
A ministra Marina Silva, ao lembrar a transversalidade das políticas, destacou a necessidade de colocar as populações indígenas no centro das discussões ambientais.
“É claro que os indígenas estão nas faculdades, aprendendo e fazendo a ciência do homem branco. Mas, as universidades e os centros de pesquisas vão ter que aprender com a ciência milenar dos povos indígenas também. Por isso que, na Cúpula da Amazônia, o painel científico para a mudança climática que vai ser criado na OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica) tem que ter também a representação das populações indígenas e tradicionais”.
Além dos acordos já firmados, as ministras presentes no encontro também se comprometeram a continuar recebendo representantes dos movimentos de mulheres indígenas para o diálogo. Integrantes da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), iniciativa que organiza a Marcha, também entregaram para cada uma das ministras, a cartilha “Vozes da Ancestralidade dos 6 biomas do Brasil”, um documento que traz a perspectiva da política indígena na construção e manutenção de direitos em nível nacional.