III Marcha de Mulheres Indígenas abre espaço para construção da irmandade entre lutas raciais feministas
A importância da preservação ambiental, da garantia de direitos, do combate à violência de gênero e da irmandade entre mulheres indígenas e negras na luta por uma sociedade mais justa. Esses foram os temas que dominaram as discussões no segundo dia da III Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília.
Os termômetros da capital federal marcavam 25°C quando dezenas de mulheres, com suas pinturas, sementes e maracás, começaram a se concentrar na tenda central do acampamento para participar da plenária internacional “Mulheres Água”. Mulheres de diferentes idades, etnias e países integravam a mesa, em uma demonstração da força do movimento indígena. Estavam presentes representantes de países como Malásia, Uganda, Estados Unidos, Peru, Quênia, Nova Zelândia, Bangladesh, Rússia, Indonésia, Guatemala e Finlândia. Mulheres indígenas, de todos os continentes do globo, engajadas na transformação da sociedade.
Cristiane Julião, da etnia Pankararu, é cofundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), iniciativa que organiza a Marcha e recebe apoio do ELAS+. Ela explica que essa alusão às águas é uma forma de valorizar tudo que a natureza oferece à humanidade por meio dos recursos naturais. Ao final do plenária, ela avaliou que, como a correnteza das águas, as mulheres indígenas estão percorrendo territórios de todo o planeta.
“São essas águas que escorrem, que não são aprisionadas. São corrente de correnteza, não corrente que aprisiona. Essas águas que conseguiram sair da bolha e agora desaguam em outros lugares. Cada uma dessas mulheres desaguou e está formando outros oceanos”. Cristiane Julião
Natália Izhenbina tem 65 anos e faz parte da delegação internacional que está presente na Marcha. Com a ajuda de uma intérprete que traduz a língua da etnia russa para o inglês, ela se diz bastante animada com a oportunidade de compartilhar experiências com as mulheres indígenas brasileiras.
“Estarmos juntas fortalece a nossa voz. As pessoas precisam ouvir o que nós temos a dizer, temos um grande conhecimento”. Natália Izhenbina
Fortalecimento entre elas e para elas
Unir esforços e compartilhar aprendizados foi mesmo a tônica da Marcha nesse segundo dia. Mulheres indígenas da ANMIGA se reuniram com lideranças internacionais que são referência no combate à violência de gênero para debater estratégias de enfrentamento ao problema. Ao mesmo tempo, na plenária central, representantes de movimentos feministas indígenas e de mulheres negras faziam um chamado para o reconhecimento da irmandade das lutas.
Organizações como a Rede Nacional de Feministas Antiprobicionistas e a Coalizão Negra por Direitos, iniciativas do movimento negro também apoiadas pelo ELAS+ por meio do programa Aliança Negra, estavam presentes. Ingrid Farias, uma das representantes, fez questão de destacar como mulheres indígenas e negras sustentam as mesmas bandeiras.
“Nós, mulheres negras, queremos construir uma irmandade com as mulheres indígenas. Não queremos seguir sozinhas porque a luta contra o racismo é uma luta pela garantia das nossas vidas e dos nossos direitos. Nós precisamos fazer esse país ter a nossa cara, ter o nosso rosto, as nossas cores e a nossa identidade. Queremos seguir irmanadas, os cocares das companheiras indígenas com nossos turbantes e nossas tranças”. Ingrid Farias
O encerramento da Marcha acontece nesta quarta-feira, 13 de setembro. A expectativa é de que mais de 6 mil mulheres indígenas ocupem as ruas da Esplanada dos Ministérios, uma das principais vias de Brasília, onde ficam concentrados todos os Ministérios. As mulheres indígenas seguem em marcha até o Congresso Nacional para reivindicar os lugares de direito e o fim das violências contra a população indígena.