Caranguejo Tabaiares Resiste!

[Soberania alimentar, defesa de manguezais, saneamento, soluções baseadas na natureza, mulheres negras]

"A horta é nossa principal força de incidência junto ao poder público [luta pela moradia]."

Liderança do Movimento Caranguejo Tabaiares Resiste, Recife, Pernambuco, Brasil.

O Coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste está localizado em Recife (PE), uma das maiores cidades do nordeste brasileiro, com uma população de quase 1,5 milhão de pessoas. A comunidade de Caranguejo Tabaiares está em um dos maiores manguezais urbanos da América Latina, às margens das águas do rio Capibaribe. Os manguezais desempenham um papel fundamental na vida cotidiana da comunidade, onde as crianças brincam, enquanto, no meio das raízes aéreas, os camarões são cultivados em pequena escala e as mulheres entram nas águas para apanhar mexilhões. Estas mulheres são conhecidas como "marisqueiras".

A comunidade de Caranguejo Tabaiares tem 100 anos e conta com aproximadamente 14 mil habitantes. Ao longo dos anos, a comunidade vem sofrendo com o crescimento da área urbana do Recife. Muitos moradores vivem com esgoto a céu aberto na frente de suas casas, e outros moram em palafitas improvisadas sobre a água do mangue - uma água que está poluída com a sujeira que vem das partes mais ricas da cidade.

A população de Caranguejo Tabaiares tem enfrentado impactos diretos da retirada de parte do manguezal, como a diminuição de peixes e crustáceos, as frequentes enchentes, a poluição dos rios - que foram transformados em canais de despejo de resíduos sanitários - e as constantes perseguições e disputas pela implantação de novas construções na área. Foi nesse contexto que, em 2018, foi criado o grupo "Caranguejo Tabaiares Resiste!".

O grupo vem trabalhando para fortalecer a comunidade, especialmente com a participação de mulheres negras que se tornaram lideranças comunitárias em defesa da justiça socioambiental e do bem viver. Elas atuam ativamente para a preservação do meio ambiente local por meio de rodas de conversa, defesa de direitos em espaços de discussão, e produção agroecológica em hortas comunitárias, mantidas em um terreno vazio ao lado da comunidade.

O grupo luta pelo saneamento básico e moradia digna, para que as crianças possam brincar em segurança no manguezal, mantendo sua relação com esse ecossistema. Também continuam a pequena criação de camarões e peixes, defendendo o mangue onde esses animais vivem.

Com suas hortas agroecológicas, a comunidade busca promover um ambiente mais saudável, ao mesmo tempo em que defende uma habitação social condizente com a cultura e suas relações com a natureza. A horta é feita com métodos de agrofloresta, e as raízes permitem que a água adentre o solo, diminuindo os riscos de alagamento. No dia 20 de novembro de 2023, Dia Nacional da Consciência Negra no Brasil, plantaram um Baobá na horta comunitária, árvore símbolo da resistência africana, para marcar a resiliência delas e a construção do bem viver no território.